XXI Edição 101 km Ronda – 12 a 13 de Maio de 2018 - Relato da Carla Vélez


Introdução

Ronda, Andaluzia
Ronda é considerada por muitos, a Meca dos corredores, pela superação humana em condições adversas e pela extensão e dureza da própria prova.

Para os atletas que a concretizam, a vontade de regressar é viciante, devido ao público espectacular e entusiasta que, ao longo de 101 km, assiste e cria uma dinâmica única, transmitindo um calor humano ao corredor que passa por diferentes estágios de emoções e, na altura certa, o incentiva a continuar.

Capítulo I:

Iª Fase - Pré- Inscrição:

Desenganem-se todos aqueles que pensam que esta grande empresa se inicia a 12 de Maio de 2018, data da prova.

Convém desmistificar junto dos nossos assíduos leitores que nos seguem bem como os curiosos visitantes, que a jornada começa muito antes, mais precisamente a:

26/11/2017 - Pré-Inscrição para todas as modalidades: ciclistas, marchadores em equipa e individuais.

Aqui todos os atletas são bem sucedidos, conseguindo sem dificuldade pré-inscrever-se.

Para terem uma noção do quão requisitada é esta prova, de acordo com o site oficial <Lalegion101>, este ano contabilizaram-se 19.000 inscrições.

Por ora, o 1º passo foi atingido. Os Falcões de Monsanto estão inscritos.

Com este ânimo, delineamos o plano e locais adequados ao treino .

Plano de treino:  Entre os 50 a 60 kms/ semana, ou seja:

- 2 ou 3 treinos curtos (cerca de 10 / 20 km) durante a semana;
- 1 treino longo de 30-40 kms, em média, no fim de semana.

Primeiras surpresas:

No decorrer da semana seguinte, ao recebermos o regulamento da Prova, deparamo-nos com duas surpresas -  o aumento do desnível positivo acumulado para os 3000 metros e a alargada alteração do traçado do percurso.

Escolha do Local de Treino:

Este era o grande quebra cabeças. E agora ? À excepção da Serra da Estrela, e vivendo nós na região de Lisboa, não tínhamos como treinar uma altitude tão elevada....

A solução recaiu sobre a Tapada de Mafra e a serrania circundante, designadamente a Serra do Socorro e de Montachique, alternando com umas idas até à Serra de Sintra.

Durante a semana, optou-se pelo passeio marítimo à beira Tejo.

IIª Fase – A Crucial Inscrição na Marcha Individual

14/01/2018-10:00 (Espanha)

PT - Em casa: 2 PC’s e 2 telemóveis estão a postos, desde as 08:15h (hora actualizada ao relógio mundial)

Ao aproximar-se a hora oficial, sopram-se os dedos para o clique certeiro.

Nas vésperas, tínhamos acordado com o atleta e nosso amigo de longa data, Manuel Pereira, companheiro de muitos treinos, a sua colaboração no processo de inscrição.

Cada "Falcão" controla um PC e um telemóvel. Vai-se actualizando a página do site.

Com os nervos à flor da pele, ginasticam-se os dedos e escolhe-se a posição acertada defronte ao monitor, para introduzir o código de inscrição e pressionar o botão “Enter”.

O tempo passa....8.30h...08.45h....

08:58h- A tentação de entrar antes do tempo é muita. Mas...um simples clique agora pode bloquear o acesso à nossa incrição.

08:59 - 9:00h, fazemos a contagem regressiva dos segundos, em voz alta, clica-se e ... instantaneamente o site fica em baixo.

Um rápido “refresh” à página. Introduz-se novamente o código de inscrição e “Enter”! Surge-me uma caixa de diálogo a verde : "Plaza assignada"!

Pela primeira vez, em três edições, consigo o acesso directo. Olho para o meu parceiro, o "Falcão-Mor", nervosamente tentando pela inésima vez inscrever-se. Nada... A mesma resposta recorrente: "No ha obtnenido plaza!"

Em segundos, o site fechou as inscrições. Com o descontentamento estampado no rosto, o João obteve o 471º lugar na lista de espera.

Este ano, será ele a passar a tormenta de tentar conseguir o almejado dorsal à última da hora!

- Nada está perdido! Um de nós está inscrito, vamos na mesma a Ronda, e havemos de conseguir dorsal!

Contactamos o nosso amigo "atleta lebre", Rui Ramalho que, este ano também iria tentar a sua sorte, juntamente com a sua filha Sofia. Em suma, o mesmo cenário, ele tinha conseguido inscrever-se, ela não.

III Fase – A Preparação Intensiva – 14 de Janeiro a 07/05/2018

Tomámos a decisão de não participar em qualquer prova oficial e dedicamo-nos de corpo e alma aos treinos longos e duros.

Logo a seguir à inscrição, iniciámos os treinos na Tapada de Mafra com renovado entusiasmo.

Javali passeando a recente prole
Ao longo de 4 meses de duradouro Inverno e uma tímida Primavera, contámos com a sorrateira, curiosa e furtiva presença dos “residentes” locais da Tapada. As suas aparições eram sempre bem vindas, fazendo-nos esquecer a dureza das subidas e das extensas 5 horas, em média, de treino.

As condições atmosféricas rigorosas imperaram: muito frio, chuva intensa, vento, tempestade e até granizo houve! Calor?? Apenas apareceu em dois treinos...Esperávamos não vir a sofrer com isso!!!

Por duas vezes, subimos a Serra do Socorro até à Ermida da Nossa Senhora que lhe dá o nome.

Outras vezes, dedicamos treinos especiais em Sintra com a subida à Peninha e outros penedos altos, com direito a queda aparatosa em arbustos espinhosos.

Durante a semana, ao final do dia, percorríamos cerca de 10 km, entre Belém e Paço de Arcos, ida e volta e mais uns pós ...

Capítulo II – Ronda

A uma semana da prova, a organização em virtude da compatibilizar a logística para 8.500 atletas, comunica a alteração às regras de alojamento.

Os acompanhantes e atletas sem dorsal não poderão pernoitar nas instalações do Pavilhão.

E agora ?!? Com a lotação das unidades hoteleiras quase esgotada, em Ronda, as escassas vagas de alojamento fazem-se a preços exorbitantes.

Numa luta contra o tempo, conseguimos estadia na serrania de Ronda, em Benadalid, a 23 km da cidade. Óptimo, assim, estamos prontos!!

Véspera da Prova – 11/05/2018

Com a excepção de uma hora extra feita no tráfego de Sevilha, devido a acidente na via, a viagem de cerca de 7h até Ronda foi tranquila.

E lá, estava ela, à nossa espera, altiva no seu cimeiro cume.

No entanto, este dia prometia ser longo para o Falcão-Mor ...

17:30h – Chegada a Ronda

20ºC que correspondem a 25ºC. O calor fazia-se sentir. Bonito....a continuar assim, vamos ter uma prova com calor ...

Dirigimo-nos para o Pavilhão. Levantei o meu dorsal e entreguei a mochila de roupa para ser enviada para Setenil, enquanto o João tenta obter informações para conseguir o dorsal.

A espera vai ser longa ...

Ufa! Afinal vou ter a companhia do João

Entretanto, pude deambular pelas ruas de Ronda e observar o bulício das duas festividades locais, uma pagã e outra religiosa. Nestes 3 dias, a cidade acolhe quase 9000 pessoas entre atletas e seus familiares para a XXI Edição dos 101 km, além de outro milhar de turistas para testemunhar as festas da Nossa Senhora da Assunção.

No jardim Alameda del Tajo, o palco encenado da meta estava pronto.

A tarde deu lugar à noite, e ao fim de 6 horas de espera em pé, o João consegue finalmente dorsal!

Regressamos ao hotel e contabilizamos o tempo de ida e volta para nada falhar na manhã seguinte.

Antes de dormir, preparamos o material a levar nas mochilas: comida, gel, frontais, pilhas, tapa-orelhas, buff, impermeáveis, meias suplentes, medicamentes, cremes, pensos para bolhas, fita adesiva, passaporte legionário ... e ... FOTOCOPIA DO BI PARA COLAR NO PASSAPORTE, ONDE ESTÁ????  Não há-de ser nada....Horas de dormir!

A Prova – 12/05/2018

De acordo com o regulamento, as portas do Estádio Municipal de Ronda, devem encerrar às 10.45h. 
A essa hora, todos os atletas têm de estar dentro do recinto.

06:30h – O dia na Serra ainda não amanheceu. Está frio e um nevoeiro cerrado.

09:00h - Depois do check out, rumámos a Ronda em grupo com o Rui Ramalho e a sua filha Sofia circundando rapidamente a serrania em 25 minutos.

A Sofia será a nossa repórter local e companheira de corrida do pai no último troço do percurso.

Os do costume, desta vez com o nosso Rui Ramalho

Enquanto o Rui segue para o estádio, os 2 "falcões" procuram desenfreadamente um local para, aquela hora, tirar uma fotocópia do B.I. para anexar ao passaporte de corrida. Conseguimos essa proeza graças à simpatia de um rapaz de uma bomba de gasolina local.

Encaminhámo-nos para o estádio não sem antes o João tomar o seu café. Pelo caminho, sofre um pequeno entorse no pé. Muito bom...ainda nem a prova começou. Felizmente, o pé está ligado, e o incidente passa sem consequências maiores!!! Seguimos em frente.

Ao longo da rua que nos leva ao Estádio reparamos num pormenor inédito....a existência de forças policiais fortemente armadas...reflexo da situação actual vivida em Espanha.

10:30h- 1º Posto de Controlo – Entrada no Estádio Municipal de Ronda

Por já ser tarde, os legionários que controlam as entradas nem sequer se preocupam em comprovar a existência de fotocópia de B.I. anexada ao passaporte...tanto esforço em vão!

Estádio cheio. Fotos da praxe. Este ano, pelo adiantado da hora, não assistimos à partida dos ciclistas.


A Sofia entretinha-se fotografando o atrevido grupo
Tempo incerto. 14º C, céu muito carregado mas ainda não chove. Bom tempo para começo de prova.

10:50h- Ultrapassamos as barreiras de segurança e dirigimo-nos para a linha de partida. Faz-se um minuto de silêncio em homenagem ao legionário morto em combate. Segue-se o discurso da mais alta patente dos legionários e escutamos o longo hino da Legião.

10:58h- GPS a postos!

11:00h- Começa a prova!!!

Desta vez não temos a oportunidade de passar a mão pela faixa dos legionários por estar tão elevada. Não faz mal, não somos supersticiosos.

Iniciamos uma pequena subida que nos leva às artérias principais da cidade, pejadas de gente.

A tentação de correr é muita e, perante tanta assistência até fica mal estar a andar. É inevitável e começamos a correr.

Chegamos à baixa de Ronda, o comércio pára! Os lojistas, as meninas bonitas das perfumarias, das cadeias de roupa, os clientes, os turistas, sentados nas esplanadas a tomar café, os residentes, todos estão presentes, incentivando-nos, aplaudindo-nos. Formam uma massa, um verdadeiro cordão humano que estrangula as ruas, deixando apenas um estreito corredor por onde passamos. A sensação de energia positiva é estrondosa e arrepiante.

As crianças, por vontade própria ou instigadas pelos familiares aventuram-se e esticam os braçitos a fim de podermos “chocar” as suas mãos e, quando tal acontece, ficam radiantes.

Encaminhamo-nos para a Praça de Touros onde estão expostas as ansiadas medalhas finais. 

Percorremos o recinto e saímos para o exterior em direcção ao “casco antigo” e à "Puente Nueva".

Depois, encetamos uma longa descida em curva rumo à saída do povoado, passando pelos mais importantes e atractivos pontos turísticos da Cidade:

- El Hammam ou Banhos Árabes de Ronda (também conhecidos por Banhos árabes de São Miguel), considerados os mais bem conservados em todo o Ocidente.

- Palácio Mondragon e os seus jardins encantados, onde se situa o Museu da Cidade.

Chegamos ao 1º abastecimento – aos 5 kms, o qual dispensamos.

Estamos agora em vastas planícies mas em sentido ascendente. O traçado do percurso é estreito e muito irregular, com zonas enlameadas, as quais a maioria dos atletas, de estrada, preferem evitar, procurando terreno alternativo para não sujar os ténis.

Numa das subidas já nossas conhecidas passa por nós, velozmente, o Rui Ramalho. Gritamos por ele e desejamos-lhe boa sorte.

Aos 8 kms, a 1ª surpresa da prova. O percurso da XXI edição altera-se. Iniciamos uma subida muito inclinada e extensa. O João aconselha desde logo o uso dos bastões. Estes só voltariam a ser recolhidos nos últimos 3 km de prova.

Nestes primeiros quilómetros, quando vamos ainda muito juntos em género de procissão, reparamos que os corredores espanhóis não se metem tanto connosco ao verem a bandeira portuguesa dependurada na minha mochila. Estão muito circunspectos e defensores das causas nacionalistas resultante em parte da instabilidade política vivida em Espanha.

Entramos na área reservada do "Parque Natural de Marbella Verde", situado na "Sierra de las Nieves". 

Um sobe e desce constante ao longo de 15 km até desembocarmos na saída do perímetro militar Las Navetas.

Seguimos para o abastecimento dos 25 km- o desejado almoço! 

A escolha para o repasto foi infeliz, junto de uma suinicultura. Numa altura em que é necessário sentar-nos para verificar o estado dos pés, trocar de meias, tirar pedras indesejáveis, repor a bateria de cremes e descansar por 10 minutos enquanto comemos uma sandes mista e beberricamos um trago de coca-cola....tudo isto torna-se impossível.

O odor insuportável fez-nos checar tudo em pé e, mesmo sem apetite, engulir a refeição e avançar rapidamente para a vila branca de Arriate (designação árabe para Os Jardins).


Vamos rolando com alguma facilidade

Aos 30 kms, iniciamos uma fastidiosa subida em caracol com cerca de 5 kms, atingindo o ponto mais alto aos 900 mts de altitude – El Cortijo del Poliar.

O calor faz-se sentir. Ao longo dos diversos patamares, a vista é pitoresca. Em baixo, avistamos Arriate, rodeada de searas onde despontam papoilas rubras.

Aos 41 kms depois de atingir o El Cortijo de La Manga, alcançamos um estradão e aproveitamos para correr.

À nossa esquerda decorre uma "Feria Gitana". Os nossos olhos vagueiam pelos alazões possantes e bem tratados e pelos trajes garridos e típicos das mulheres andaluzas.

45 kms a 51 kms – Avançamos para Setenil em terreno descendente, com algumas “bajadas peligrosas”.

Entrada em Setenil de Las Bodegas – Por cima e pelo lado contrário da que ocorreu em edições anteriores.

Temos uma perspectiva diferente, mais ampla sobre o castelo e sobre a vila caiada e encrustada na formação rochosa.

Serpenteamos o acesso à vila ao longo do rio até chegarmos ao centro peculiar do casario, onde centenas de pessoas nas típicas bodegas aplaudem os atletas. O sítio está tão repleto que temos de pedir licença para prosseguir.

O ânimo é tanto - Vamos morena! Fuerza campeona! -, que percorro a correr os últimos quilómetros sempre a subir até ao complexo desportivo. Sou repreendida pelo Falcão-Mor: “Vais pagar caro mais à frente!” O certo é que também ele seguiu as minhas pisadas, no mesmo ritmo ...

Ao atravessar a ponte de acesso ao recinto, cruzamo-nos com muitos atletas, em sentido contrário em direcção à paragem de autocarro. A prova, para eles, tinha terminado ali.

19:00 – Paragem....

Para abastecimento. Tempo para: recolher a mochila e mudar de roupa para enfrentar o frio da noite que se avizinha.

20:00h – À saída do recinto, uma menina oferece-nos os pirilampos (luzes intermitentes), para colocarmos na traseira das mochilas.

Iniciamos uma trajectória de 10 kms, de longa subida passando por El Cortijo de Calle.

Ainda temos luz natural e avançamos rapidamente. Atingimos um dos três pontos mais altos do gráfico – La Chinchilla.

Depois, começamos a descer intensamente e de forma abrupta até ao Quartel dos Legionários, situado na povoação de La Indiana.

Já é noite! Enquanto percorremos a serra avistamos ao longe Ronda, iluminada e sempre muito presente, nos nossos pensamentos e como objectivo final. No entanto, ainda falta muito para lá chegar.

23:45h – km 70 - Chegada ao aquartelamento -

É com alegria que nos aproximamos da passagem de caminho de ferro e passamos o pórtico de entrada para o Quartel e do perímetro militar.

Cá fora, existe um abastecimento de comida fria. Retiro uma sandes e vou comendo pelo caminho.
Estamos frescos e sem dores musculares.

Dentro do refeitório, enquanto recolho a comida quente, o João descobre uma máquina de café expresso, onde se abastece.

Perante o menú oferecido, opto por tomar um bom café com leite – a escolha acertada –  e apenas debico alguns bagos de arroz com pedacitos de ovo e fiambre. Deixo de lado o resto do arroz com pimentos vermelhos, o cachorro quente, o pacote de batatas fritas e reservo a lata de coca-cola para mais tarde.

Ao contrário do ano passado, acabamos por nos sentar. Os músculos das pernas assim o permitiram. 

Ao nosso lado e tal como à entrada, estão companheiros de corrida, cujo o número era agora ainda maior que em Setenil, com a mochila de muda de roupa, ainda intacta, às costas e que aguardam a chegada do autocarro que os levará de volta a Ronda.

Olhámos um para o outro mudos mas convictos.

20 minutos depois, encetámos a subida para saída do aquartelamento. Os legionários dão-nos força para prosseguir. Despedimo-nos com um "Hasta luego" e "Hasta el final"!

Avançamos sem medo para o que era considerada até agora a etapa mais difícil da prova – a subida à Ermida, situada na Sierra de Grazalema.

Uma hora depois, iniciamos a peregrinação lenta de 8 kms, sempre a subir, até ao cume.

Enquanto subimos, vou recordando os acontecimentos do ano passado, em que fui acometida por uma forte indisposição.

Durante a noite o frio aperta

A subida é longa, piso algo difícil, mas fazemo-la com elevado espírito e boa disposição, seguindo-se a descida aos ziguezagues que nos levará ao próximo abastecimento.

O João começa a sentir sono e pergunto aos legionários se não terão "café solo". Não, só têm café com leite, extra açucarado...

Rapidamente somos encaminhados para a surpresa que nos tinham reservado. 

Iniciamos outra subida que, essa sim, nos levará até ao cume da Serra

Começam as preocupações... O meu companheiro comunica-me que está cheio de sono e pretende parar uns minutos para dormir.

“Nem pensar, não podes ficar a dormir em plena serra. Assim não vais acabar a tempo.Vamos em frente!”

Recordo-me da lata de coca-cola que trago comigo e obrigo-o a bebe-la a fim de despertar.

Meio adormecido, percorre o circuito ziguezagueando até ao topo. Eu vou aplicando a força nos bastões, poupando as pernas e sigo em frente. Já está! Levamos aqui cerca de 83 km.

Descendo, passamos Montejaque, em direcção a Benaoján – 86,5 kms.


Em Benaójan



A madrugada já vai alta. As pessoas já há muito que estão recolhidas. Passamos pela casa onde, no ano passado, o casal de idosos nos deu apoio e sorrimos.


Avançamos pelas ruas, seguimos por uma ladeira e entramos novamente, no interior da serra onde se situa a Cueva del Gato.

91,5 kms – Cortijo de La Mania – o último posto de controlo.

Últimos 10kms...os mais cansativos.

O dia a raiar e sempre a ver Ronda...parece inalcançavel.

96 kms – Último posto de abastecimento – Puerto de la Muela.

Já só queriamos acabar mas ainda faltam 3 penosos km de subida íngreme até Ronda.

Passamos por um atleta esgotado. Por falência dos gémeos, vinha apoiado noutro corredor. A força de vontade é enorme e impulsiona-o a seguir...já estão tão próximos afinal...

Apercebendo-se que eramos portugueses, indicarm que estavam inscritos para a Prova de São Mamede. Ao qual respondemos: Ui!!! Essa ainda é mais exigente!!!

A derradeira e extenuante subida até à cidade foi ultrapassada e entrámos nas portas de Ronda, ainda adormecida. Afinal, ainda não são 8:00h.

Passamos o Castelo, percorremos a calçada da ponte romana em direcção ao Jardim Alameda del Tajo.

Ao longo do percuso final, alguns atletas e locais felicitam-nos: -Hecha! Ya está!En horabuena! Campeones!

"Sprint" no km final


No último quilómetro, o João dá a ordem de corrida. Ainda incerta, testos os músculos ressentidos e prossigo em passo de corrida. Antes da curva de entrada para o Jardim, à nossa espera, de entre os resistentes espectadores, encontram-se o Rui (cuja prova há muito tinha acabado), e a Sofia.

A meta está logo ali, a 200 metros. Fazemos o sprint final!


21 horas e 9 minutos depois do tiro de partida, cortamos a Meta Cientounera

E assim, superamos mais um desafio, completando orgulhosamente a XXI edição dos 101 kms de Ronda de 2018.


Para que não surjam dúvidas
Carla Vélez







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