101 Km La Legion – XXIII Edición El regreso

 

101 Km La Legion – XXIII Edición

El regreso



 

Na comemoração dos 100 anos da fundação da “Legion Extrangera”, atrasada 2 anos por causa de uma pandemia que virou o Mundo do avesso, no mês de Maio de 2022 ocorreu a 23ª edição de um acontecimento mítico, os 101 Km de La Legion, em Ronda.

Este é o nosso relato de mais uma saga.

O início da aventura

A última vez que estivemos em Ronda foi já no distante ano de 2018. Uma série de percalços (doenças, lesões, etc.),  não permitiram que fôssemos lá na edição de 2019.

Depois aconteceu o Covid19 e a necessária interrupção da prova durante 2 anos.

Este longo interregno, aliado ao agravar de alguns problemas físicos já antigos, provocou alguma desconfiança nas minhas capacidades.

 

Após mais uma subida, o merecido descanso



As paisagens recompensam o esforço


Os treinos longos ao fim de semana foram-se sucedendo. As muitas subidas à Serra do Socorro, conhecida pelo nome de “Ninho da Águia” (1), foram-se acumulando.

    




Forte Grande (ao fundo a Serra do Socorro)

Foram muitas horas de sacrifício! Quando o comum dos mortais estava a gozar o seu descanso em pantufas, estávamos nós, nuns dias a levar com chuva intensa, noutros sob um calor arrasador.

Quase no topo sa Serra (vindos muito lá de baixo)

Um mês antes da prova, não nos sentíamos muito convencidos da nossa condição física.

Estávamos mesmo muito desconfiados de que a conquista dos nossos objetivos, a acontecer, seria muito à justa.

A gozar o calor do Sol, após mais uma subida

Ao contrário das minhas experiências anteriores, eu sentia-me muito cansado e sem aquela sensação de “poder” que é costume. Estava numa palavra, pessimista!


A Carla estava em grande forma e era ela, com a sua boa disposição, que me incentivava sempre a prosseguir.

Papoilas saltitantes


Estávamos convictos de que não podíamos ter feito muito melhor, por quanto tivemos de compactar o treino de um ano em cerca de 4 meses.

 

 No meio das dificuldades, tivemos momentos de boa disposição e sobretudo, muito companheirismo.

No topo do Mundo





A foto do último treino, por mera superstição, tirada todos os anos no Forte do Alqueidão



O último treino antes da prova não me correu nada bem, o cansaço mantinha-se. Mas como se costuma dizer que um mau ensaio geral antes da estreia é sinal de boa sorte... Vamos a isto!


E finalmente, Ronda!

Chegados a Ronda, todas as anteriores dificuldades ficam esquecidas. A cidade tem um pulsar diferente do habitual... Por todo o lado, já só se vive los 101 .

 

El Puente Nuevo, com a camiseta oficial da edição XXIII dos 101 km já envergada

A organização continua impecável, e rapidamente despachamos as questões burocráticas, para podermos enfim mergulhar no caudal de corredores e suas famílias, que enchem as ruas, as esplanadas, a alameda del Tajo.

Calles e esplanadas cheias de bandoleros












Ao longo dos anos, e esta já é a nossa quinta vez que aqui estamos, desenvolvemos uma rotina que já não conseguimos quebrar. O mesmo acontece com outros atletas que conhecemos.

Na viagem paramos sempre nos mesmos sítios, vamos sempre aos mesmos restaurantes, passeamo-nos sempre pelos mesmos locais.

Nas fotografias, só a idade dos figurantes muda, tudo o resto se mantém inalterado.

 


Mesmo local, mesmas personagens mas em 2013

Los 101

Por circunstâncias várias, chegámos ao ponto de partida muito em cima da hora, pelo que não conseguimos estar com grandes amigos que também entravam nesta aventura.

O frenesim apodera-se de todos, para disfarçar fazemos o milionésimo check-up do equipamento.


 

Tínhamos prometido (mais ou menos) que esta seria a nossa última vez, e por isso estávamos ambos muito comovidos, já com saudades do futuro...


No entanto, quando partimos, tudo isso se esquece. Nesse momento, somos uns herois saudados freneticamente pela população ao longo dos 4 km que corremos dentro da cidade de Ronda.


As sensações voltam a ser boas e sentimos uma confiança que já não tínhamos há muito


Como já sabemos, a primeira metade da prova, apesar do muito calor que sentimos, é uma festa.

A passagem pelos Pueblos Blancos é sempre uma animação. Em Arriate somos recebidos com euforia.

Do cimo dos terraços, algumas almas caridosas vão “regando” quem passa. Miúdos oferecem-nos copos de água acabados de encher num chafariz. 

Outros passam-nos pedras de gelo.

Depois segue-se Alcalá del Vale, com a mesma animação e vontade de ajudar.

Descida para Alcalá del Valle



 

Finalmente chegamos a Setenil de las Bodegas, pitoresca terra andaluza, onde percorremos algumas ruas, sempre aclamados pelos alegres foliões com bebidas frescas na mão, que me provocam sempre muita inveja...

Setenil de las Bodegas

Está vencida a primeira metade da nossa missão.

Agora acabou a festa, cai a noite e começam as verdadeiras dificuldades.

É hora de superarmos as serras que temos pela frente, com as subidas intermináveis e, pior ainda, as temidas e desgastantes “bajadas peligrosas”, com o seu piso muito pedregoso e técnico.

 

Perfil da prova

Quando temos oportunidade de olharmos para o percurso por nós já vencido, conseguimos vislumbrar centenas de luzinhas, cada uma delas representa um bandolero que atravessa as serranias Rondeñas, com um atraso em relação a nós de cerca de uma hora e meia. O respeito pela prova e pelos seus participante cresce dentro de nós.

Os bravos não são os excelentes atletas que acabam a prova numa dezena de horas. Duros são aqueles que continuam a avançar, numa passada firme e obstinada, ao fim de 20 ou mais horas. Verdadeiros legionários de um exército pacífico que só quer conquistar mais um vale,  mais uma serra.

Com o cansaço e a escuridão que nos rodeia, a realidade vai-se misturando com o sonho, mas continuamos, sempre em frente, inabaláveis.

Foto de Javier Flores


Finalmente subimos a última calçada de pedra mourisca, que nos parece interminável mas já sabemos que não é assim, e sobretudo sabemos que nada nos vai impedir de chegarmos ao fim, de nos vencermos a nós próprios, de sentirmos o mesmo que os Deuses do Olimpo sentem, a Imortalidade.









Ronda é nossa!

Percurso dos 101 km


 

  1.  (1) “Ninho da Águia” era a denominação dada à estação central de comunicações telegráficas do Duque de Wellington. Este posto localizado na Serra do Socorro, fazia parte das Linhas De Torres, utilizada durante a guerra contra as forças napoleónicas.

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